O poder das palavras

As palavras e a forma como as dizemos têm significado. Têm o poder de nos impelir para a frente ou de nos reter. Há palavras que carregamos connosco durante meses ou mesmo anos, palavras que nos magoam quando pensamos nelas ou nos animam quando estamos em baixo, dando-nos o poder de fazer e criar coisas novas.

Cada palavra cria uma imagem, uma visão, uma sensação, uma ação ou inação, ao longo de toda a nossa vida, passando da infância à vida adulta. Aprendemos basicamente a conhecer a nós próprios e ao mundo que nos rodeia enquanto tentamos decifrar um grande puzzle de palavras. Tudo tem um nome, quer seja um objeto, um sentimento ou um pensamento. Cada sensação tem a sua própria definição. Conhecemos e compreendemos o mundo que nos rodeia porque alguém pôs tudo em palavras. Sem palavras, não teríamos sabido o que era e todas as coisas que nele havia.

Tente pensar, como sabe que uma caneta é uma caneta? Então imagine que está a segurar nas suas mãos algo que não tem nome ou definição, qual seria a sua sensação? Reconhecerá ou considerará sequer a situação? Temos tendência a focar a nossa atenção em coisas que podemos definir claramente e chamar pelos seus nomes.

Recordemos por um segundo o conto popular de "A Roupa Nova do Rei". Baseia-se na nossa relação com as palavras, "Um tolo aquele que não pode ver" (o significado da palavra “tolo”) - um rapazinho inocente, que ainda não conseguiu obter as regras do mundo e as palavras que nele residem. Apenas expressou o que viu, tão simples quanto isso.

A criança aprende a abordar o mundo através dos pais como educadores, pela forma como uma palavra lhe é exibida ou escondida ("sexo", por exemplo, é uma palavra que um pai normalmente tenta manter escondida). Mesmo o tom ou conotação (onde colocamos a palavra na frase e a sua ligação à situação) em que utilizamos uma determinada palavra é importante. Para uma criança em idade escolar, isto também pode ser feito pelo seu professor.

Cada palavra tem o seu próprio conteúdo e somos nós que permitimos que esse conteúdo exista. Mesmo os surdos, que encontraram um tipo diferente de linguagem usando sinais para expressar este mundo, confiam na mesma definição inicial de palavras que o resto do mundo. Esses sinais devem basear-se nas palavras com significado existente no mundo da audição, a fim de permitir a compreensão e o conteúdo mútuo / global.

Falamos dos nossos pensamentos e sentimentos.

As palavras têm a capacidade de influenciar a nossa vida quotidiana para o melhor e para o pior. Criar uma conversa ou uma fofoca, falar de coisas que nos fazem felizes ou que são dolorosas para nós. Cada um de nós já experienciou pelo menos uma vez algum tipo de fofoca dolorosa que foi contada sobre si, uma fofoca que pode tê-los magoado muito profundamente, tão profundamente que, de facto, influenciou a sua qualidade de vida. Por outro lado, há alguns que também experienciaram uma fofoca que os fez alcançar grandes progressos - transformar de bom em melhor, por exemplo, recomendações verbais, que são consideradas boa divulgação.

Cada um de nós considera cada palavra de forma diferente, dependendo e de acordo com a soma das experiências pessoais por que passou durante a sua vida jovem e adulta e também dependendo da sua personalidade.

Tudo pode ser transformado de negativo em positivo ou vice-versa. Por exemplo, o casamento (uma pessoa pode ser feliz num casamento enquanto outra tem medo e quer escapar a este) - o corpo responde de forma diferente de acordo com cada sentimento. “Queres casar comigo?” é uma pergunta que toda a mulher espera ansiosamente ouvir, mas pode igualmente representar algo intimidante ou assustador para alguns.

Gravidez - Um forte desejo ou o fardo da responsabilidade?? Consequentemente, o corpo permite uma impregnação mais fácil ou torna-o mais difícil devido ao medo.

Uma criança - diversão ou fardo??

Se chamássemos “gay” a alguém que é heterossexual, este poderia achá-lo repulsivo e reagir com agressão ou também poderia haver alguém que o aceitasse com um sorriso e seguisse em frente pois a capacidade dessa pessoa para aceitar as diferenças é maior.

A rotulagem de crianças, quer seja feita por outras crianças ou por adultos: “nerd”, o que pensa que tais rótulos criam naqueles que os experienciam? Podemos encontrar pessoas que até hoje carregam consigo estes rótulos onde quer que vão; trabalhando arduamente para finalmente se libertar deles, curvando-se continuamente perante eles como definições ou dizendo-lhes orgulhosamente / humoristicamente: "Sou um nerd e tenho orgulho nisso".

Tomemos como exemplo Mark Zuckerberg, o “nerd” que criou o Facebook. Hoje em dia tantas pessoas trocariam de lugar com ele se pudessem, por isso alguns podem dizer que ele é um “nerd” mas um orgulhoso nisso.

Quem de nós não experienciou na sua infância a frase "ser um(a) bom(boa) rapaz / rapariga" (traduz-se por "devo ser um(a) mau(má) rapaz / rapariga se é preciso dizerem-me isso")? Olhando para trás, desde uma perspetiva adulta, é uma espécie de manipulação, para que as crianças façam o que nós, os pais, queremos que elas façam. O que é que esta experiência cria nessas crianças enquanto se tornam adultos? Talvez a vontade constante de agradar ou satisfazer no trabalho e em casa com o esposo/esposa.

Quem de nós não sofreu a comparação com outros ao crescer? "Estão a ver?! O Michael é melhor do que Tu, porque não podes ser mais como ele?” (não importa que 20 anos mais tarde ele possa não ter sido bem sucedido de todo, mas ainda assim ficou a sentir-se menos durante toda a sua vida).

As palavras, se suficientemente fortes, podem definitivamente magoar ou gerar uma doença.

Como é que nos expressamos quando não estamos num bom lugar nas nossas vidas ou quando estamos extremamente stressados? A maioria de nós usa essas mesmas expressões repetidas para mostrar a nossa frustração e raiva.

Expressões como:

"Tenho muito na minha mente" (dores de cabeça, enxaquecas?)

"Tenho o peso do mundo sobre os meus ombros" (dores nas costas, pescoço tenso?)

"Não tenho tempo para respirar" (dificuldades respiratórias?)

"Levo tudo a peito"/"Não aguento mais" (questões cardíacas, problemas digestivos?)

"Estou farto até aqui" (dor de garganta, rouquidão, disfunção da Tiroide?)

Tente pensar em como exprime o stress ou a pressão.

A fim de lhe demonstrar como as palavras afetam as nossas vidas, reuni aqui alguns exemplos de antigos pacientes meus:

Alguém cujos pais lhe disseram que “não valia nada” e que “não seria nada”. O que acha que estas frases lhe fizeram? Trabalhou arduamente durante toda a sua vida, mas como os seus pais disseram e imprimiram na sua mente, não foi nada, pois não deu realmente nenhuma oportunidade a nada. Não acreditava realmente que podia tornar-se algo, por isso não o fez.

Outro caso incluía frases como “A música não te pode dar dinheiro, ser advogado pode” ou “Já te divertiste, agora é altura de te tornares sério”. Então abandonou a música, que era o amor da sua vida, em favor da prática do direito e de uma vida de miséria, no que lhe dizia respeito.

Alguém cujo irmão lhe disse que dado que celebrou um casamento civil em vez de um religioso, "Deus não a abençoará com filhos", simplesmente não conseguiu engravidar. Hoje, após algumas sessões de terapia e conseguir libertar esta frase da sua mente, tem três lindos filhos.

Uma criança que me perguntou “porque é que a mamã não diz nada de simpático nem me abraça quando trago para casa uma nota melhor do que a que eu tinha antes?” (um C em vez de um D).

Professores que dizem às crianças que são "estúpidas" e que "nunca serão nada".

Todos gerimos as nossas vidas através dos reforços positivos e negativos que damos / recebemos.

Não há certo ou errado para todos, mas sim certo ou errado para cada pessoa específica.

As palavras são importantes! A vida tem tanto um começo como um fim e ambos podem existir ou deixar de existir, dependendo do tipo de palavras (certas ou erradas) que são usadas durante e entre as duas.

Usamos o termo "palavras-chave" porque estas palavras são importantes, são a chave para o desenvolvimento de uma ideia ou de uma ação.

Se olhar em volta, muito do que está a acontecer é baseado e depende das palavras.

A diplomacia baseia-se em dizer as palavras certas a fim de criar o impacto político correto, resolver questões e colmatar lacunas culturais entre diferentes estados, criando compreensão e uma base comum entre eles.

Porque é que temos dificuldades em criar relações com pessoas de outros países? Porque não conhecemos a língua e, por conseguinte, não temos uma base comum com eles.

A linguagem é uma base comum, tanto verbal como emocional. Já reparou que quase todos os países do mundo incluem no seu currículo escolar os estudos de uma segunda língua? Isto é feito pela mesma razão - para ter mais pontos em comum, para ter mais comunicação, para ter uma compreensão mais ampla.

Por vezes, mesmo que se conheça uma língua, mas não as suas nuances e dialetos, pode-se interpretar mal a pessoa que está à nossa frente - ele quis dizer isso de uma forma positiva, mas em vez disso tomou-a como algo negativo.

Em línguas com raízes latinas, por exemplo, existe uma forma de discurso respeitosa e uma forma de discurso casual, que pode causar algum atrito se for mal utilizada. Nesta situação, você ou a outra pessoa podem ficar ofendidos e, mais uma vez, estas são apenas palavras ou semântica, como se costuma dizer, mas as palavras são poderosas, têm muito mais poder do que nós lhes damos crédito, por isso, neste caso, um pouco mais de consciência tem um grande impacto.

A matemática é também uma espécie de língua internacional que fala em números mas conseguiu alcançar e é falada por todos, a um ou outro nível.

A mímica é apenas movimento sem palavras reais, mas continua a basear-se em palavras - palavras não ditas (ótimo, certo?!). Se não tivéssemos tido as palavras iniciais para descrever o que é exibido perante nós, não teríamos encontrado qualquer significado nisso (no movimento).

Os websites são construídos com base no conceito de utilização de palavras de pesquisa específicas e uma certa forma de pensar.

Os produtos existem e são criados por causa de palavras e necessidades específicas que são definidas por palavras.

Aprendemos sobre o que acontece no mundo através das notícias que são transmitidas usando palavras na televisão e nos jornais e falamos sobre elas depois.

Os compositores ou artistas escrevem música com um certo significado em mente. A música em si não precisa necessariamente de palavras, é uma linguagem por si só, mas tem um significado verbal para quem a escreveu ou ouviu. A música expressa um sentimento, uma emoção, um pensamento.

Poemas e livros são basicamente e principalmente palavras.

Certas palavras têm o poder de mudar situações, por exemplo:

"Desculpe" - pode criar reconciliação

"Obrigado" - pode criar um sentido de apreciação e encorajar atos positivos / bondosos

"esperança" - pode manter-nos vivos

“fé” - em nós mesmos (ou em Deus)- torna-nos mais fortes ou enfraquece-nos

Quando incluímos a palavra "Não" numa frase como "Não quero falhar", o "Não" pode cancelar o que realmente desejamos. O fracasso é apenas um passo antes de se alcançar o sucesso! Não devemos deixar que se torne este grande fardo sobre os nossos ombros e carregá-lo connosco para todo o lado, restringindo-nos no que fazemos ou não fazemos no futuro.

Uma doença - é apenas um passo antes do bem-estar (trata-se apenas de mudar o seu ponto de vista).

A guerra começa com muitas palavras e intenções, mas pode também terminar com uma palavra - a paz.

Pontos de reflexão:

Mensagens de texto, Facebook, Twitter - a conversa está a tornar-se cada vez mais curta, superficial e utiliza abreviaturas e más escolhas de palavras - o nosso vocabulário está à beira da extinção e a capacidade de ter uma conversa profunda adequada está a diminuir.

O uso crescente de computadores e o ato de escrever tudo neles desvaloriza a palavra escrita e o processo de atualização que é criado no cérebro enquanto escrevemos e pronunciamos palavras - a parte da implementação acontece enquanto escrevemos algo (com uma caneta / lápis real sobre um pedaço de papel real).

A forma como escrevemos está a tornar-se cada vez mais ilegível.

A caligrafia como forma de expressão pessoal de algo para alguém está a desaparecer rapidamente - cartões comemorativos, que eram escritos à mão no passado, são hoje em dia apenas digitados em / por um computador. De alguma forma, sempre senti que um postal ou cartão comemorativo escrito à mão tinha um nível diferente de intenções e de personalização na sua mensagem, apenas um pensamento...

Também lemos menos - levando a uma diminuição no nosso mundo da imaginação pela falta de palavras. Talvez isto provoque um aumento dos casos de demência numa idade mais avançada? Sim? Não?

Porque não podemos dizer "amo-te" mais livremente ou com maior frequência - é suposto ser tão simples mas para nós é extremamente complicado. A palavra "Amor" em breve perderá o seu poder porque a usamos cada vez menos e já não consideramos a quem a dizemos. Ela perde o seu forte significado inicial e torna-se completamente superficial. Estamos dispostos a liquidá-la, pelo que desaparecerá lentamente por completo do nosso vocabulário e as gerações vindouras não saberão o seu verdadeiro significado ou o que ela representava. Tornar-se-á apenas mais uma palavra vazia.

Alguma sugestão?

Uma frase como "o teu corpo é um templo", "deixa o alimento ser o teu remédio e o remédio o teu alimento", "o riso é o melhor remédio", "entra com o pé direito" demonstra a ligação emocional com as palavras que dizemos e o aspeto físico / influência em todas as imagens que utilizamos para expressar essas emoções. Pode comer conscientemente e utilizar pensamentos positivos - usando palavras positivas enquanto prepara a comida e enquanto a come também. Se o experimentar, verá uma melhoria imediata dos problemas digestivos, por exemplo. Se só pelo facto de ter percebido e reconhecido que as palavras têm poder e uma energia que nos pode fazer sentir melhor, mesmo que objetivamente a situação em si seja desagradável.

Dar reforços mais positivos - todos nós precisamos deles, tanto os que os recebem como os que os dão.

Comece o seu dia com pensamentos positivos, isto coloca-nos num estado de bem-estar geral e aumenta a nossa capacidade de lidar com o que está para vir.

Tenha consciência do que as palavras lhe fazem e do que elas podem fazer aos outros, saiba que há sempre uma escolha! E o maravilhoso é que pode sempre escolher de forma diferente.

Usando palavras positivas para mudar um estado atual mau, como por exemplo um ataque de ansiedade - dizendo repetidamente "Estou calmo" (embora saiba que é o contrário, mas as palavras ainda podem afetar o cérebro e a sua atividade química, neste caso para melhor).

Se se sentir rígido ou tenso, pode dizer "Sou flexível" ou "Deixo ir", "Liberto".

Explicando as coisas de forma um pouco diferente - como "Deus está cheio de amor e compaixão e não quereria que sofresses", somos nós que colocamos todas estas outras regras e castigos, portanto somos nós que os podemos mudar.

Pense nisso. Pode mesmo fazer apenas uma pequena mudança na forma como fala com a sua família, amigos e pessoas à sua volta. Se for consistente, poderá também beneficiar desta mudança, sentir-se-á melhor consigo próprio e as outras pessoas sentir-se-ão melhor à sua volta. Esteja ciente do que diz, a quem e como o diz, porque cada palavra conta.